segunda-feira, julho 10, 2006

Texto da Dra Maria Helena Padrão, para a apresentação do meu livro no Clube Literário do Porto

Hugo santos: vinte e oito anos. Um escritor novo, uma escrita nova.

Entre o nada e a catástrofe conduz o leitor, num discurso formulado na primeira pessoa, a uma estranha deambulação pelos caminhos da mente. É a mente, enquanto processo de articulação do pensamento, o objecto/sujeito de estudo deste livro. A visão do mundo é assim uma espécie de concatenação entre os dados da efabulação do pensamento e os dados fornecidos por uma certa interpretação, não do real observado, mas dos sinais que esse real deixa entrever apenas aos eleitos.

A novidade deste discurso reside fundamentalmente nesta capacidade de captar os interstícios do espaço/tempo e de os deixar exarados quase de forma testemunhal, documental, nas imagens quase transparentes de tanta genuinidade.

ANDA-SE PELAS RUAS COM AS PERNAS A TREMER., é uma frase que surge reiteradamente porque é na reiteração, quer da sua semanticidade, quer na reiteração da sua presença visual ( a maiusculização),que se dá a revelação. De quê? Da eminência de catástrofe. Ao longo do texto há como que uma anaforização deste conceito, há como que uma necessidade de se evidenciar esta descoberta em forma de aviso ao outro. E as frases em que ele está contido são muitas:
A todo o instante altera-se o mundo
A todo o instante altera-se a ideia que do mundo se tem
A todo o momento pode acontecer a catástrofe
A catástrofe pode eclodir a qualquer instante
Não se sabe o que nos reserva o futuro
A catástrofe está algures. Nalgum sítio se esconde.

Curiosamente, este sujeito enunciador, que é um misto de narrador lírico autodiegético constata ainda que: a infinidade de opções que o acaso tem é tanta que chega a baralhar-se a si próprio.

É, pois, neste espaço de inquietação que nos coloca este livro de Hugo Santos. É uma inquietação fundamentada na observação de factos, na conformidade do acaso, na mais elementar intuição. É uma fundamentação consolidada nos elementos fornecidos pela trivialidade e que, no entanto, constituem cesuras nas entranhas do tempo, linhas de descontinuidade, aliás já largamente evocadas noutros contextos, noutras ciências.

Assistimos assim a apontamentos como:
O guarda-redes foi rápido nos seus reflexos e fez uma defesa espectacular. Minutos antes era um filho da puta.

A menina-baloiço que está alheia a tudo e baloiça com mais força ainda
Os pessoas que vivem o seu dia-a-dia sem medo
O Vesúvio que pode explodir a qualquer momento
A guerra no Médio-Oriente ….


O escritor é aqui um iluminado, um inspirado pelo espírito da própria linguagem, linguagem que está também tecida de descontinuidades, cuja natureza dialogada tem menos expressão do que o longo monólogo interior, como se, no absurdo do conhecimento, existisse a consciência de que se fala para um interlocutor que não quer ser informado, um interlocutor que existisse numa outra dimensão. O que se passa com a linguagem é o mesmo que se passa com as fórmulas matemáticas: constitui um mundo em si mesma. E exprime, antes de mais a sua própria natureza. Então, apenas alguns, iniciados ou eleitos, acedem, primeiro à natureza desse mundo, depois à sua capacidade simbólica.

A escrita, na sua fragmentária natureza, na sua poeticidade, eleva as coisas do mundo a uma natureza superior, perspectivando uma totalidade. O fragmento, que é a essência do poético, acolhe as manifestações múltiplas do ser que, por vocação, aspira à essencialidade. O paradoxo que Hugo Santos apresenta nesta obra explica-se através do Princípio da Razão heidegeriano: “tal como o princípio da razão, todo o fragmento tem um lugar a partir do qual fala e que é uma das pontes de relação presença/ausência, velamento/desvelamento, … constituição do ser que se abre e se fecha no mistério ontológico das coisas”.

Maurice Blanchot refere também que a existência fragmentária é pressuposto incondicional de toda a escrita. O fragmento da escrita e o instante da existência caminham a par, como se a vivência do instante captasse o momento efémero da eternidade: o instante da criação tão intenso como o instante da destruição.

Hugo Santos, de forma enigmática, direi mesmo, codificada, elabora, no instante da escrita, a vidência da totalidade; configura, nos meandros da aparência dos dias sempre iguais, a eminência da catástrofe. O que é a catástrofe? É precisamente a antítese da ordem. Caos e ordem: duas faces da mesma moeda.

Hugo Santos, um escritor novo de uma escrita nova, deixa-nos nesta inquietação da eminência da catástrofe, direi mais, a inquietude do ser perante a sua própria existência, e afirma:
Os artistas não são espelhos…quando muito são pedaços de catástrofes e por isso as sabem relatar tão bem.

É um conto, nada convencional. Aliás, não é por acaso que o título é:
Entre o nada e a catástrofe & Bónus: um pequeno conto de almofariz cor-de-laranja, e que a epígrafe diz: Aos pastéis doces das avós, para os netos e quem mais vier…

O escritor dá-nos uma forma de sair desta inquietação e à maneira de Kusturica, constrói um microcosmos onde tudo se pode vivenciar sem os constrangimentos do aqui e do agora.
Sair para fora desses constrangimentos lembra a frase do livro anterior que seleccionei:

As lagartixas fazem-nos sempre sorrir.

É verdade. Hugo Santos, tal qual a lagartixa, ou as laranjas que têm asas de avestruz e bicos de pinguim com toques de galos de Barcelos faz com que saibamos sair dos limites impostos ao ser, à existência, e partamos à descoberta de novas formas de vida, quiçá melhores, quiçá piores. Sobretudo diferentes.

Hugo Santos, um escritor novo duma escrita nova, dá início, com esta obra, a um percurso de excelência

Maria Helena Padrão

quinta-feira, junho 22, 2006

Munições para um diálogo III
Fotografia
80cmX110cm
2003

sexta-feira, junho 16, 2006

Tertúlia - Clube Literário do Porto

Quarta-feira, 28 de Junho, pelas 21:30.

Mindwalk, orientada pelo Prof. José Eduardo Reis - UTAD.
Participantes: Fransisco Laranjo, António Quadros Ferreira, Ramiro Teixeira, Francisco Saraiva de Sousa, Miguel Leitão, Celeste Natário, José Galvão, José Nuno Pereira Pinto, Fernando Almeida, Alexandre Teixeira Mendes, Hélia Saraiva, Hugo Santos, Maria Helena Padrão.

www.clubeliterariodoporto.org

quinta-feira, maio 25, 2006

Dia 3 de Junho, pelas 16:00 - Sessão de autógrafos na Feira do Livro


A convite do Clube Literário do Porto, estarei dia 3 (Sábado), na Feira do Livro, para uma sessão de autógrafos do meu livro: "Entre o Nada e a Catastrofe".


Entrevista (EDITONWEB.COM)

http://www.editonweb.com/Noticias/NoticiasDetalhe.aspx?nid=308&editoria=3

domingo, maio 14, 2006

Munições Para Um Diálogo V

Texto que acompanha a exposição no Clube Literário do Porto:

O olho não vê mas o coração sente
Na luz branca da manhã
O Bailado alucinante de todas as cores
Unidas, escondidas
Camufladas no foco branco
Cantando a melodia do espaço
Revelando a forma dos corpos num banho
De purificação e amor.

No Uno o divisível
Reconvertido ao Uno.

Assim se mostra a luz branca
Assim se desvenda o seu mistério
Enquanto a chuva lava a terra
E o sol por entre ela baila
Em pequenos milagres
Nos arco-íris de mil cores.

E a ponte entre o nada e o todo se cumpre
Entre a luz branca e una e o silêncio da escuridão que aguarda
Numa espera silenciosa e saudosa
Onde tudo se encontra sem que se veja
No negro da noite.

Eu sou para ti e tu para mim.
Os opostos completam-se.

Sempre um eterno silêncio
Por entre os cambiantes musicais das cores.
Sempre um eterno silêncio
Na escuridão que murmura.
Paradoxos.

A luz rasga o espaço como faca afiada
Deixa versos dispersos pelas silhuetas das coisas
No tempo ínfimo que por lá passa
Quase sem tocar
Reflectindo-se em fuga
Sem nunca se apanhar.
Deixa apenas leves impressões
Nos olhos deliciados de quem vê.

E o que foi voltará a ser de outra forma.
O ciclo repete-se.
O que te quero dizer
Está escondido na luz branca da manhã
E na escuridão da noite

Decompõe-se a luz nos cambiantes que se conhecem
Vermelho, Laranja, Amarelo, Verde, Azul, Anil, Violeta.
Mas não se destrói a poesia das cores.
A luz una e branca continua a encantar
Na noite escura e fria
O destino dos poetas.


Hugo Santos 2006
Acrílico e Esmalte sobre Tela
120cmx100cm
2002
Acrílico e Esmalte sobre Tela
120cmx100cm
2006
Acrílico e Esmalte sobre Tela
120cmx100cm
2006
Acrílico e Esmalte sobre Tela
120cmx100cm
2006
Acrílico e Esmalte sobre Tela
120cmx100cm
2006
Acrílico e Esmalte sobre Tela
120cmx100cm
2006

quarta-feira, abril 05, 2006

Cartaz Feito para a Exposição
Coreldraw 12
2006

domingo, janeiro 15, 2006


Pormenor da Instalação no JUP (Jornal Universitário do Porto)
Repetida na Galeria Serpente - Porto


(pormenor)
Acrílico e Esmalte sobre Tela
300cmx120cm
2005